A VIA DO SÁTIRO E O CULTO VISIONÁRIO DO SABAT - Gnose, Mistério e Iniciação no artista Austin Osman Spare
Austin Osman Spare era um artista visionário e mago goético heterodoxo, inspirado no modelo gnóstico e extático do culto sabático das bruxas, na primeira metade do séc. XX. A sua prática, que veio a chamar de Bruxaria Zoética, baseava-se na Teurgia Sexual e na ideia do corpo como arcano de um eu pluricéfalo e polissêmico habitado de subpersonalidades latentes, verdadeiros daimons, a invocar e reificar por uma praxiosofia que K. Grant chamará Teurgia da Carne. Esta Teurgia, que não se diferencia da Goétia, como nos primórdios do tempo de Heródoto, era o verdadeiro despoletador em transe de forças primordiais e atavísticas reificadas no campo da consciência transfigurada. Ela projetava-se como “Mundus Imaginalis” na sua produção de arte, vivida como um análogo do sonho lúcido e como reificação visionária dos estratos arcaicos da Psique. Spare veio a influenciar, após a sua morte, Kenneth Grant e a sua abordagem mágica da OTO Tifoniana que criara, o movimento do Caos Magick de Peter Carrol e a base doutrinária e a praxis oculta do Cultus Sabbati de Andrew Chumbley. A Arte, sobretudo em desenho, era uma Goétia Prática de prospecção dos atavismos e da memória ancestral.
Gilberto de Lascariz apresenta pela primeira vez, no campo dos estudos feitos até agora sobre Austin Osman Spare, o significado e o alcance último sob o ponto de vista esotérico, da sua concepção da Bruxaria Gnóstica, enquanto baseada no sonho numinoso e na magia atavística e sígilica, reificada tanto na sua obra escrita como artística, mas sempre caracterizada pelo onirosófico e antinômico. O seu mistério e a sua praxis são revelados aqui como sendo parte de uma corrente subterrânea de caráter iniciático e sapiencial aceitando, como Andrew Chumbley, que a Bruxaria Tradicional, extática e pré-industrial, fazia parte de um veio secreto e subterrâneo de caráter gnóstico, hoje incompreendido, e que faria parte da Filosofia Perene. As suas raízes encontrar-se-iam nos magoi descritos desde Heródoto a Apuleio até aos papiros mágicos greco-egípcios e, depois, nos movimentos gnósticos medievais que permearam o culto visionário do Sabat.
Nesta edição brasileira encontra-se, também, o texto da palestra feita pelo autor na Casa do Fauno, em Março de 2024, em Sintra, Portugal, aqui apresentado como “O Livro Mágico como um Sepulcro dos Espíritos”.
Somos uma editora independente, cuja missão é propagar obras ocultistas e esotéricas voltadas principalmente ao sinistro e obscuro.